segunda-feira, 29 de novembro de 2010

song of childhood




Quando a criança era criança,
andava balançando os braços,
queria que o riacho fosse um rio,
que o rio fosse uma torrente
e que essa poça fosse o mar.

Quando a criança era criança,

não sabia que era criança,
tudo lhe parecia ter vida,
e todas as vidas eram uma.

Quando a criança era criança,

não tinha opinião a respeito de nada,
não tinha nenhum costume,
sentava-se sempre de pernas cruzadas,
saía correndo,
tinha um redemoinho no cabelo
e não fazia poses na hora da fotografia.

Quando a criança era uma criança

era a época destas perguntas:
Por que eu sou eu e não tu?
Por que estou aqui, e porque não lá?
Quando foi que o tempo começou,

e onde é que o espaço termina?
Um lugar na vida sob o sol não é apenas um sonho?
Aquilo que eu vejo e ouço e cheiro
não é só a aparência de um mundo diante de um mundo?
Existe de facto o Mal e as pessoas
que são realmente más?
Como pode ser que eu, que sou eu,
antes de ser eu mesmo não era eu,
e que algum dia, eu, que sou eu,
não serei mais quem eu sou?
Quando uma criança era uma criança,
Mastigava espinafres, ervilhas, arroz, e couve-flor cozida,
e comia tudo isto não somente porque precisava comer.

Quando uma criança era uma criança,
Uma vez acordou numa cama estranha,
e agora faz isso de novo e de novo.
Muitas pessoas, então, lhe pareciam lindas
e agora só algumas parecem, com alguma sorte.
Visualizava uma clara imagem do Paraíso,
e agora no máximo consegue só imaginá-lo.
Não podia conceber o vazio absoluto,
que hoje estremece no seu pensamento.

Quando uma criança era uma criança,
brincava com entusiasmo,
e agora tem tanta excitação como tinha,
mas só quando pensa em trabalho.
Quando uma criança era uma criança,
Era suficiente comer uma maçã, uma laranja ou pão,
E agora é a mesma coisa.

Quando uma criança era criança,
amoras enchiam a sua mão como somente as amoras conseguem,
e também fazem agora,
as avelãs frescas magoavam a língua,
como o fazem agora,
tinha, em cada cume de montanha,
a busca por uma montanha ainda mais alta, e em cada cidade,
a busca por uma cidade ainda maior,
e ainda é assim,
alcançava cerejas nos galhos mais altos das árvores
como, com algum orgulho, ainda consegue fazer hoje,
Era tímido diante de estranhos,
e ainda o é.
Esperava a primeira neve,
Como ainda espera até agora.
Quando a criança era criança,
Arremessou uma lança contra uma árvore,
que ainda balança na árvore, até hoje
.


Peter Handke

em inglês aqui

from the movie
Asas do Desejo, (1987) de Win Wenders
um filme em que "as crianças são as únicas que vêem os anjos..."*




* " ... ter incertezas às vezes, é um remédio activo para nos libertar do fardo da responsabilidade e somente, tão somente a simplicidade e inocência – representadas pelas crianças (as únicas que vêem os anjos) é a saída, a única forma de suportar o fardo da vida, e torná-la mais interessante, com cores mais vívidas, ousar e conseguir dar o passo adiante para livra-se das correntes, conseguir transpor as barreiras que a vida tediosa e monótona que se coloca nos tornozelos e pulsos dos que se sujeitam às regras, é um lembrete para que nos rebelemos, e deixemos as armaduras, (como Damiel quando se liberta do mundo insípido). Sem armaduras, não tendo mais grilhões e aberto à própria sorte, mas com liberdade e com as rédeas da vida nas mãos, o dia ganha novas formas e cores quando ele sai do mundo hermético e cinzento, que despedaça os sonhos, e chega ao prémio valioso, que só se da conta da sua magnitude, quando começa a ver o mundo em technicolor."

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

o tempo passa, as estações mudam

sementes que têem asas, sabias?
é hora de voar.


vem a chuva,
as folhas e sementes leva-as o vento a passear.

Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue...Pingue...Pingue...
Vu...Vu...Vu...

Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue...Pingue...Pingue...
Vu...Vu...Vu...

Ó vento que vais,
Vai devagarinho.
Ó chuva que cais,
Mas cai de mansinho.
Pingue...Pingue...
Vu...Vu...

Matilde Rosa Araújo, O Livro da Tila






e porque não, bem agasalhados,
ir à praia conversar com as gaivotas e o mar?

(e quem disse que praia é só no Verão?)

roupas guardadas? para a rua passear!

ou por casa ficar a brincar
a novos mundos e lugares inventar.

(onde irias agora num avião de papel?)






Adorei conhecer o trabalho desta ilustradora,
Jen Corace

além destas lindas imagens que despertam histórias que não sabemos onde começam e como acabam, fica ainda uma entrevista e um lugar onde podemos espreitar os seus skecthbooks

*BOM OUTONO*






Já por aqui, de cabeça para baixo no Hemisfério Sul,
começam a aparecer as primeiras cores da Primavera.



"growing into a respectable lady" Jean Corace